sexta-feira, 29 de julho de 2022

50 anos do Orelhão: um marco do design nostálgico das cidades

50 anos do Orelhão: um marco do design nostálgico das cidades

Conheça a história do icônico Orelhão, criado por Chu Ming Silveira, para ser uma solução de comunicação nas cidades

Por Ana Harada Atuali.

Atualizado em 7 jun 2021, 17h46 - Publicado em 8 jun 2021, 08h00 
Chu Ming Silveira falando no orelhão em frente à FAU - USPChu Ming Silveira falando no orelhão em frente à FAU – USP Orelhao.arq/Reprodução

Você GenZer, que nunca teve que viver a vida sem um smartphone, provavelmente só conhece esse objeto chamado "Orelhão" por fotografias ou por relatos de terceiros. A verdade é que esse sistema de comunicação marcou toda uma geração de pessoas e a paisagem urbana dos anos 1970, 1980 e 1990. E, para quem era criança na época, possivelmente era a fonte de muita diversão e trotes (porque não havia identificador de chamadas).


Veja a história desse objeto histórico e intrigante do design brasileiro que faz 50 anos este ano!

História

 

Projeto em desenho técnico do orelhão– Orelhao.arq/Reprodução

A designer que criou o Orelhão é Chu Ming Silveira, uma imigrante de Xangai que chegou ao Brasil em 1951 com a família. No começo da década de 1970, Chu Ming era chefe Departamento de Projetos da Companhia Telefônica Brasileira e recebeu o desafio de criar um telefone público que fosse barato e mais funcional do que os telefones sem nenhuma proteção que ficavam em farmácias, bares e restaurantes.

Chu Ming Silveira falando no orelhão posando para foto em jornal– Orelhao.arq/Reprodução

Como as conhecidas cabines telefônicas de Londres, a ideia era que o projeto oferecesse privacidade para quem estivesse falando, tivesse uma boa relação custo-benefício e que fosse adequada às temperaturas quentes do Brasil. Assim surge o Chu I e Chu II – nome original e oficial do Orelhão – em 1971.


Design

 

Orelhão transparente dentro de mercearia. Latas empilhadas ao fundo– Tecnoblog/Reprodução
Inspirado em um ovo e fabricado em fibra de vidro e acrílico, o Orelhão e a Orelhinha, além de baratos, tinham uma acústica excelente e resistência ótima. Por serem de fácil instalação, eles logo se popularizaram nas ruas e em ambientes semiabertos (como escolas, postos de gasolina e outros locais públicos). Havia modelos em cor laranja e transparentes.
Duas pessoas de costas cada uma falando em um orelhão– Reprodução/ArchDaily

Em janeiro de 1972, o público viu pela primeira vez o novo telefone público: no Rio de Janeiro, no dia 20, e em São Paulo, no dia 25. Era o começo de uma era icônica da comunicação, que teve direito a até uma crônica de Carlos Drummond de Andrade!

Conjunto de três orelhões em cidade com filas de pessoas para falar. Foto preta e branca– Reprodução/Wikimedia Commons

Não foram só os brasileiros que adoraram o Orelhão, eles foram implementados em países da África e Ásia e também da América Latina.

Homem de terno falando em orelhão laranja transparente encostado em parede azul. Foto de época– Reprodução/Pinterest

Uma curiosidade é que os teclados do telefone do Orelhão possuem letras, ou seja, podem ser utilizados para escrever palavras. Algumas empresas incorporavam as letras de seus nomes em seus números de telefone.

Orelhão com grafismos atualmente, na avenida paulista– Reprodução/Pinterest

Hoje, com o surgimento e popularização dos celulares, os Orelhões foram caindo em desuso, mas ainda existem nas cidades como um marco nostálgico que pode ser útil caso você precise fazer um telefonema e ninguém tiver celulares por perto.

Confira mais informações no site oficial do Orelhão!

segunda-feira, 18 de julho de 2022

​O fiador do caos

O fiador do caos
Editorial do Estadão 
18/7/22

Sem espírito público, Arthur Lira não está à altura do comando da Câmara neste grave momento do País. Atropelando normas e ritos, aliou-se ao atraso bolsonarista para dele extrair poder

A democracia tal como a conhecemos se esvai quando os indivíduos à frente das instituições republicanas não se mostram dispostos a defender seus valores e pressupostos com espírito público, coragem e obstinação.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), não se mostrou à altura do comando de uma das Casas Legislativas neste terrível momento da história do País. Ao contrário: aliou-se e deu sobrevida ao atraso bolsonarista, para dele extrair poder. Falta-lhe espírito público.

Ao atropelar normas e ritos com o objetivo de impor a pauta legislativa de seu interesse, Lira desmoraliza algumas das mais importantes conquistas da sociedade nas últimas décadas, conquistas estas materializadas em um arcabouço jurídico-normativo que, até agora, fazia do Brasil um país minimamente civilizado no que concerne ao trato do Orçamento público, à livre atuação das oposições no Parlamento, ao respeito às decisões da Justiça e ao regramento das eleições.

A fim de acomodar interesses financeiros e eleitorais muitíssimo particulares, Arthur Lira tem usado seu enorme poder para respaldar o desmanche de todo aquele ordenamento – e diante dos olhos de cidadãos a um só tempo incrédulos, indignados e desalentados. Sob sua gestão à frente da Casa, o que tem sido visto é a completa subversão do papel da Câmara dos Deputados como representante dos interesses da sociedade, e não dos parlamentares.

De sua cadeira na Mesa Diretora, Arthur Lira não só tem sido tépido em relação aos desabridos ataques perpetrados pelo presidente Jair Bolsonaro contra o Estado Democrático de Direito, como ele mesmo tem usado e abusado de suas prerrogativas no cargo para fazer letra morta do Regimento Interno da Casa – que passou a ser o que lhe der na veneta, não o que está escrito –, da Lei de Responsabilidade Fiscal, da Lei Eleitoral e, o que é ainda mais grave, para chancelar mudanças importantíssimas na Constituição de afogadilho, sem o devido debate democrático. A gestão Arthur Lira é uma sucessão de absurdos.

Cerca de duas semanas após o deputado alagoano ter sido eleito e empossado como presidente da Câmara dos Deputados, defendemos nesta página que, em sua nova e nobre condição, Arthur Lira haveria de ter "uma visão republicana sobre o papel institucional da Casa, locus de representação permanente da sociedade, independente, por óbvio, das fugazes associações ao governo de turno" (ver editorial O livre exercício da oposição, publicado em 20/2/2021). O tempo, contudo, mostrou a que veio Arthur Lira.

É de justiça reconhecer que Lira não teria tido sucesso em suas manobras se não tivesse amplo apoio. Seus pares, em muitas ocasiões, a ele se associaram em suas investidas contra a Constituição, a Lei Eleitoral e as regras de ancoragem fiscal do País, inclusive – e sobretudo – parlamentares de oposição ao governo. No mínimo, omitiram-se diante do descalabro. Mas o fato é que Arthur Lira é a personificação da crise de representação política que tanto mal tem feito ao Brasil. O presidente da Câmara simboliza o desarranjo institucional que assola o País, em uma simbiose com o presidente Jair Bolsonaro que tem se mostrado tão danosa ao interesse público.

Ainda faltam longos sete meses para o término de seu mandato, mas já é possível afirmar que o deputado Arthur Lira entrará para a história do Congresso como um dos principais fiadores do caos instalado no País pelo desgoverno de Jair Bolsonaro. Afinal, é dele, Lira, a prerrogativa exclusiva de autorizar a abertura de processos de impeachment contra o presidente da República, além de, no âmbito da Casa que comanda, acionar o sistema de freios e contrapesos em defesa da democracia. Numa e noutra missão, Lira tem falhado miseravelmente.

Quando a sociedade, enfim, acordar desse terrível pesadelo que já dura quase quatro anos, haverá de lembrar que Bolsonaro só foi tão longe em seus desideratos liberticidas porque pôde contar com a atuação reptiliana de autoridades que se portaram muito aquém da responsabilidade exigida de suas altas posições na República.